Uma final para mostrar que Tio Sam também fala "oxente"
- #Arvoredo
- 19 de nov. de 2015
- 6 min de leitura

É futebol, mas jogado com as mãos, a bola é oval e tem uma pitadinha de oxente. Uma mistura e tanto para um esporte que vem conquistando o coração dos nordestinos. O futebol americano cresce a cada dia em todo o Brasil, e uma legião de fãs se posicionam nos sofás de casa, além de bares e restaurantes da cidade, todos os domingos para acompanhar as partidas pela televisão. Mas e se o espetáculo viesse até nós? Essa é a proposta de um megaevento que terá como palco a Arena Pernambuco no próximo final de semana. Recife Mariners e João Pessoa Espectros protagonizam a final da Superliga Nordeste de Futebol Americano, e vai ser arretado!
Muitos ainda não levam esse esporte a sério. Existe um preconceito em torno do jogo da bola oval que faz com que o mesmo não seja devidamente abraçado por boa parte da população. É necessário desmistificar alguns equívocos:
“Isso é coisa de americano!”. Você que pensa! Cada vez mais o esporte está se difundindo mundialmente. Um exemplo claro de que o futebol americano deixou de ser “coisa de americano” é observar que a NFL (Liga Americana) está realizando alguns jogos da temporada no lendário estádio de Wembley em Londres, um dos maiores palcos do futebol (nosso futebol) mundial. Em todas as oportunidades que o circo da bola oval visitou a Inglaterra, vendeu todos os ingressos e conquistou inúmeros ingleses.
No Brasil, ligas de futebol americano e uma seleção nacional já foram montadas e estão crescendo ano após ano. O Recife Mariners, principal time da capital pernambucana, vem sediando os seus jogos no Estádio dos Aflitos, antiga casa do Clube Náutico Capibaribe. A estratégia deu tão certo que o próprio Náutico patrocina os Mariners.
“Eu nunca assistiria um jogo como esse! Só tem violência!”. Vai nessa! Primeiramente: é verdade que o contato físico do esporte chega a impressionar pelo exagero em alguns casos, porém, além da proteção usada pelos jogadores para evitar lesões mais sérias, existem faltas que limitam o contato exacerbado. Um exemplo é que o joelho dos atletas não poder ser atingido de forma direta, visto que o número de lesões nessa articulação dentro do esporte é alto.
O segundo ponto é que o contato físico faz parte justamente da estratégia do jogo. O responsável por lançar a bola, o quarterback (ou simplesmente QB), por exemplo, necessita de tempo para enxergar um jogador livre e dar o passe. Para que haja esse tempo é necessário protegê-lo, criando assim o chamado “pocket”, uma espécie de bolsa formada pelos jogadores cercando o seu lançador. Caso essa bolsa não funcione, o QB é derrubado pelos adversários (Sack), atrapalhando bastante a campanha ofensiva do time.

A oportunidade para conhecer de perto este esporte toma lugar na Arena Pernambuco. O palco que presenciou partidas da Copa do Mundo de 2014 receberá a final da Superliga Nordeste de Futebol Americano. Recife Mariners x João Pessoa Espectros irão a campo, no próximo domingo, resolver de uma vez por todas quem levantará o título de melhor equipe da região na modalidade. Pernambucanos e paraibanos são conhecidos uns dos outros, e podemos dizer que são as primeiras equipes a ganhar grande destaque no cenário nordestino.
A Superliga é dividida em duas divisões, cada uma delas com quatro times. Mariners e Espectros são os representantes da Divisão Sul, que, no mata-mata, venceram o Recife Pirates e o Ceará Caçadores, respectivamente. Os finalistas já se enfrentaram por duas vezes este ano, com duas vitórias azulinas. Logo na abertura da temporada, os recifenses foram até o estádio Almeidão e venceram o João Pessoa pelo placar de 19x7. No jogo da volta, no estádio dos Aflitos, a vitória também foi pernambucana, só que dessa vez pelo placar de 25x19.
Os Mariners chegam até aqui invictos na competição. São 7 vitórias e nenhuma derrota para o time comandado por Lucas Cisneiros. O ataque azul foi responsável por anotar 244 pontos, uma média de 34 por jogo, sofrendo apenas 50. Já os Espectros tem um recorde de 5 vitórias e duas derrotas. Os comandados de Braian Guzman marcaram 204 pontos (média de 29 por jogo) e sofreram 61, num saldo positivo de 143.
A final deste ano é na verdade uma espécie de revanche. No ano passado, na mesma Arena Pernambuco, os Mariners acabaram perdendo a final para os mesmos Espectros pelo placar de 38x12, mas segundo o quarterback Drew Banks, responsável por municiar o ataque dos donos da casa, o jogo do próximo final de semana é algo completamente novo:
“É bom voltar a Arena Pernambuco, mas sinceramente o que aconteceu no ano passado não tem nada a ver com esse ano. É bom jogar contra o mesmo time porque eles são bons e vai ser um bom jogo de qualquer jeito. O ano passado não existe mais na minha cabeça. Esse ano o time é diferente.” – disse o QB Azul.
Achou algo estranho?
O atual QB do Recife Mariners é americano! Drew Banks comanda o ataque Azul com 1036 jardas em passe, 10 touchdowns, 316 jardas corridas e 3 touchdowns corridos. Drew começou jogando no sul do Brasil, mas logo que chegou a Recife percebeu algo diferente.

“Eu jogava em Joinville. Lá não era muito importante, muito sério. Aqui eu pensava que seria a mesma coisa, só jogar. Mas na hora que me deparei com o Lucas e com o Júlio (presidente dos Mariners), eu soube na hora que não era uma brincadeira, era uma coisa séria.” – afirmou o camisa 2.
A chegada de atletas americanos também é uma estratégia para crescer o esporte no cenário regional e nacional. O local do jogo também faz parte desse plano. A Arena Pernambuco receberá o evento pela segunda vez seguida, algo que o técnico Braian Guzman, em entrevista coletiva, enxerga como muito positivo:
“Não podemos esquecer que praticamos um esporte amador, e todo mundo conhece a realidade do esporte amador no Brasil. Jogar na Arena traz uma credibilidade muito grande ao nosso esporte. A gente sabe que enquanto o futebol americano cresce e batalha por recursos, tudo que nós precisamos é credibilidade, para atrair investidores e apoio, seja do poder público ou privado. O evento também traz o feedback dos torcedores, e muitos dizem que nunca participaram de um evento esportivo assim no Brasil, com toda a estrutura oferecida e tendo a segurança de levar toda a família. Enquanto nós conseguirmos ser o diferencial, vamos criar espaço para o futebol americano crescer. Temos que cavar o nosso nicho.” – completou o treinador dos Espectros.
O técnico dos Mariners, Lucas Cisneiros, também comentou sobre o assunto, completando o raciocínio do treinador adversário:
“A mensagem que isso manda, principalmente com os patrocinadores envolvidos aqui, é que nós fazemos um trabalho sério, profissionalizado, e que é interessante que você comece a olhar para esse nicho. É o segundo ano seguido lá na Arena, isso mostra que nós viemos para ficar.” – finalizou o coach azulino.
Cisneiros também comentou sobre o atual cenário do futebol americano no nordeste. Apesar de rivais dentro de campo, as equipes da região trabalham juntas em prol do crescimento do esporte:
“Eu vejo com muito bons olhos [o cenário da modalidade na região]. Hoje, o futebol americano do nordeste está sendo gerido por um grupo unido e muito competente. Essa rivalidade que existe dentro de campo é ótima, e a gente espera que vá crescendo do modo com está, numa competição que melhora cada vez mais. Mas fora do campo, todo esse grupo trabalha junto para o crescimento. Nada disso que tá acontecendo veio por acaso. Contanto que essa união continue, e a gente vá buscando esses objetivos com muito planejamento, a gente vai continuar crescendo. O futebol americano no nordeste está começando a ganhar representatividade na seleção, mandando jogadores para fora da região e os treinadores daqui já começam a ter os nomes conhecidos e os trabalhos reconhecidos. Tudo resultado disso, desse grupo muito unido, que se ajuda fora do campo.” – falou o comandante recifense.

A Superliga Nordeste trouxe um formato diferenciado para o esporte no Brasil, tanto que outras regiões do país tomam os moldes da nossa competição regional, caso da Superliga Centro-Sul, que está sendo desenvolvida com a mesma organização.
A final da Superliga Nordeste de Futebol Americano surge como um verdadeiro coringa na rotina dos pernambucanos. Ver o gramado da Arena Pernambuco travestido e espaçado em jardas, com dois grandes “Y” em cada um dos lados, será algo que deve impressionar ao primeiro momento, mas tem tudo para atrair toda a torcida para o estádio. Se no ano passado a final trouxe mais de 7 mil pessoas, se espera que no próximo final de semana, 10 mil adeptos compareçam a o estádio em São Lourenço da Mata na torcida pelo seu time.
Um megaevento. Com direito a shows musicais no intervalo, um espaço para você aprender na prática o que é e como funciona o esporte, um parque de food trucks e uma cerveja bem gelada. Este é o futebol americano, esporte que a cada dia que passa vai se tornando mais e mais nordestino.
Comments